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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Aconteceu em sala de aula



Boa noite prezados.

Eu, além de professor de inglês, leciono uma disciplina denominada projetos. Como sou formado em Direito, percebi  que poderia ensinar  noções de cidadania e direito, algo que nos falta muito. Sei que não posso consertar o mundo, mas faço minha parte.
Um dia como avaliação  passei um trabalho em grupo para meus alunos do ensino médio, muito conhecido por quem já fez dinâmicas de grupo para emprego, chama-se abrigo subterrâneo.   A situação é a seguinte: imagine que o mundo passou por uma guerra e restou você  e 12 pessoas. Você  terá a missão de  escolher seis pessoas para entrar em um abrigo subterrâneo e ter a chance de repovoar e reconstruir o mundo.  Cada pessoa que você escolher deverá ter algumas características importantes  que ajudarão na reconstrução do lugar.   O que eles não sabiam é que a lista de pessoas seria bem especial  pois eu coloquei, uma criança, uma mulher louca, um cientista com uma invenção misteriosa, um advogado negro, uma mulher  cega, um engenheiro com HIV, um médico homossexual  e daí por diante.
A idéia era tirá-los da zona de conforto e fazê-los pensar acerca de outras realidades e como lidar com elas. Estimular a criatividade e etc. Eles deveriam perceber que o advogado poderia criar regras organizacionais, leis e etc. A criança representaria o futuro, o novo, o engenheiro  reconstruiria o mundo, a mulher geraria filhos. Eles  já estavam inquietos  e sem saber muito o que fazer e um deles falou, nossa só tem gente braba, eu respondi, mas o mundo não é perfeito e temos de trabalhar com o que temos, aceitar diferenças e etc. 
Já no finalzinho do trabalho, um dos alunos falou, eu estou quase acabando, mas eu não sei o que uma pessoa cega poderia fazer no mundo, em tom de deboche. Ao que eu respondi  - Bom, o fato de termos pessoas assim  não qualifica ou desqualifica ninguém. Falei por exemplo  da minha experiência como estagiário da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, onde conheci um defensor público cego, e que me inspirou muito. Dr Valmeri Jardim.  Disse que o fato dele ser cego não o desqualifica, pelo contrário, ele é muito inteligente e ajuda muita gente lá.
Isso tudo me fez pensar o quanto as pessoas podem não conhecer a realidade das outras, seja por ignorância ou qualquer outro motivo. Fiquei impressionado com o que esse meu aluno disse e me fez pensar na questão da integração entre  pessoa com deficiência e "normais" ,  e o quanto ainda estamos longe de vivermos em um país digno, em que as pessoas se respeitem e percebam  suas potencialidades. As vezes o micro-ambiente da sala de aula nos mostra uma fração de nossa sociedade, como é e como será. 


Até o próximo post. 

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